Adolescentes, guarda-chuvas e o maldito pão de queijo de cinco dólares
Teste da Amy para Mestra das sombras

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The Beginning

Nunca mais volto lá.

Sempre que a visito, algo de ruim me acontece. Tá, eu sei que é normal ser um semideus e ter vários monstros te seguindo, mas sinto que as coisas aparecem mais frequentemente quando estou na casa de minha mãe. Deve ser meu cheiro que impregnou o lugar por conta dos 15 anos de minha vida que passei por
lá. Tanto faz. Tudo começou quando o verão estava acabando.

Como sempre, estava no Acampamento Meio Sangue. A estação chegava ao fim e isso para alguns significava voltar para casa e só voltar no verão seguinte, mas eu estava decidida a ficar o ano inteiro. Até que recebi uma carta de minha mãe, já prevendo a decisão que eu tomaria e implorando para que eu fosse ficar com ela. Essa foi apenas a primeira carta. Ao longo da última semana do verão ela já havia mandado mais 12, até que eu a respondi, anunciando que talvez TALVEZ, iria para casa. E fui, para nossa alegria.

Mamãe mora em Louisville, maior cidade de Kentucky. Sempre me pareceu um lugar tranquilo de se morar. Só que não. Como eu iria passar o ano com ela, mamãe me matriculou em uma escola pública perto de casa, a Marjore High School. Cheguei na cidade sexta, passando o fim de semana todo tentando colaborar com minha mãe que tentava recuperar nossa relação mãe-filha que se perdera faz tempo; na segunda-feira, começava as aulas. Um mês depois, nossa primeira saída de campo: uma visita à Barragem de Hoover. Nunca gostei de água e nem da escola, portanto seria uma boa coisa para mim não ir a tal saída. Como se minha mãe fosse permitir. Para ela, eu tinha que me misturar com "gente de verdade", já que na mente dela meus únicos amigos são mortos e criaturas infernais. Então...Eu fui. E tudo teria dado bem certo, se não fosse a velha do guarda-chuva.

- Olha por onde anda, estranha - Disse em escárnio Fred, um dos trocentos da turma que implicavam comigo ao me empurrar propositalmente contra o ônibus quando desembarcamos. As vezes dava vontade de apertar meu colar, transformá-lo em minha familiar espada e degolar todo mundo daquele recinto; com certeza o planeta seria um lugar melhor. O lugar era bem amplo, os pisos de mármore - o mesmo material usado na maioria das construções em volta. Não tem como explicar muito como é uma barragem. É apenas...Uma barragem, sabe? Eu nem consegui ve-la toda, mas você já vai entender o porque. A professora estava à frente do grupo, mandando que formassemos uma fila, porém ela não se abalou ao perceber que todos a ignoravam.

- Vai choveeerrr... - Alguém gritou com uma voz rouca. - Vai choooooveeerr...

Era uma ambulante. Uma senhora de idade, já. Ela gritava enquanto sacudia um guarda-chuva enorme que parecia aqueles guarda-sol de praia. Apesar de frio o dia estava bonito, então não ia chover. Mas ela gritava sem parar, catucando as costas de Fred com o guarda chuva e resmungando.

- Vai choveeeeer.. - Não é que choveu?

Foi tão rápido que nem sei descrever. Uma hora eu estava parada em frente a uma padaria tentando ler o preço das comidas e na outra estava agachada ao lado de uma pilastra. Lá em baixo, na água, algo surgia; algo com tentáculos. Achei que era um polvo mutante, mas cheguei a conclusão de que um polvo gigante não urraria como a criatura urrou. É, eu estava pertinho do Kraken. E não tinha ideia do que fazer.

- Tá choveeeendoooo.. - A velinha gritava enquanto rodopiava agora com o guarda-chuva aberto; quando o kraken se movia, de fato parecia que estava chovendo. Tem algo errado com a velha, além dos parafusos faltando. Ok, concentre-se, Amy.

Virei o rosto bem na hora em que o tentáculo iria descer sobre mim. Saltei para o lado, rolando para a direita. Uma estátua de anjo foi destruída um pouco mais a esquerda de onde eu estava. Toquei meu colar e senti a familiar espada negra tomar forma em minha mão; dei um tapa no relógio e o mesmo se tornou meu escudo. Não queria perder tempo, então, mirei e lancei minha defesa como se fosse um boomerangue - só pra ele ricochetear e voltar para minha mão sem efeito. Ou pior, teve efeito sim. Deixar o bichano irritado. Ele urrou novamente, um som gutural do tipo...Um zilhão de cacos de vidros arranhando um quadro negro. Ligado num rádio superpotente. Agora ele tentava me atacar pela horizontal, arrastando seu tentáculo gigantesco com a intenção de dar um "rapa" em mim. Saltei, fincando minha espada ali. Mas tive o azar de ter deixado uma das pernas arreadas; o tentáculo arrastou ela, me fazendo rodopiar e bater com a cabeça no chão. Com o golpe, o Kraken recuou seu tentáculo, levando minha espada junto.

- EEEEEEE, CHUVA BOOOOAAAA

Naquele momento, parecia que minha cabeça pesava mil toneladas. Fiquei recostada contra o chão frio, enquanto sentia algo líquido escorrer pela orelha. Não era chuva. Mas eu não podia mais ficar parada, olhando inerte enquanto o Kraken tentava capturar um dos infelizes alunos da Marjore que corriam feito gazelas. Tive que fazer muito esforço para me levantar; o esforço foi tanto que de repente, tudo estava escuro. E devo dizer que não foi algo ruim.
Me senti mais poderosa que nunca - só perde para aquela vez que baixei o demo na Grande Missão; parecia que cada fibra de meu corpo estava conectado à algo de grandioso no recinto, algo que não se via, algo que também estava dentro de mim. Minha cabeça não doía nem pesava. Agora é a hora do pau.

- CHUUUVAAAAAA

Estendi a mão e vi quando as trevas se estenderam dela, dançando a minha frente e fazendo seu caminho até o Kraken. Tinha que me aproximar, então corri o mais rápido que pude. Antes que pudesse perceber, já estava pulando sobre o parapeito da barragem e fazendo algo parecido com flutuar até a cabeça do monstro. Comecei a socá-lo, enquanto o bicho voltada a berrar. Ele levou um, dois, três tentáculos até a cabeça; saltei sobre o 1°, fazendo-o acertar si mesmo, transformando minhas mãos em compridas lâminas afiadas - benção de Dionísio para comigo - cortei o primeiro tentáculo com um arco da mão direita; girando e esquivando, acertei o terceiro tentáculo com a mão/arma esquerda. Mais um daqueles urros estranhos.

- CHUUUUVAAAaaaa...Eu quero chuuvaaa...

Enfiei minhas mãos-lâminas no crânio do Kraken, aprofundando o ferimento casa vez mais, aumentando o corte tanto pra cima, quanto pra baixo. Senti as trevas se remexendo em mim, correndo por meu corpo, descendo por meus braços e enchendo o Kraken por dentro. Será que ele explodiria? Não tive chance de responder isso, já que a velha que gostava de chuva havia criado asas, ficado meio verde e agora me arrastava pelo seu guarda-chuva, o qual ela enganchara no capuz do meu casaco. Com o susto, acabei devolvendo as mãos seu estado normal, mas pude ver o Kraken caindo de lado e terminando de se destruir ao cair na lança de uma estátua romana. Ele começava a se desintegrar devagar, o pó dourado se dissipando no rio. Aí a curica da harpia me jogou longe.

Derrapei com a queda, dando uma cambalhota pra trás e me pondo desajeitadamente de pé. Ela deu um rasante sobre mim, tentando me porrear com o guarda-chuva. Baixei a cabeça, sentindo a "arma" passar zunindo por cima de minha cabeça. Tateei o pescoço, mas minha espada ainda não tinha voltado; o anel prateado pesou em meu dedo na mão direita, me lembrando de sua existência. Girei ele entre os dedos, já fazendo o movimento de atirar com a mão livre, sentindo uma flecha surgir na corda de meu arco recém-surgido. Preparei para o tiro, mas não o fiz. Ainda tive que rolar, pular, me esconder atrás de uma pilastra para evitar os ataques da fúria; até que eu consegui uma visão boa dela. A mesma havia me visto e voava com aquele berro parecido com o do Kraken para cima de mim; apontei a flecha, esta rente ao meu rosto antes de atirar. Então soltei. As penas roçaram meus dedos ao passar voando em direção ao ar. A harpia desviou, mas ela não contava com a habilidade especial do arco: a flecha se duplicava. A segunda flecha acertou em cheio a asa esquerda da velha, fazendo-a rodopiar; com um último tiro, acertei duas flechadas no corpo da harpia, vendo-a se transformar em pó e deixando aberto no pátio agora completamente vazio, um guarda-chuva gigantesco.

Minha energia já tinha se esgotado a essa altura. Olhei no espelho de uma lojinha e vi que de um corte da minha testa saía uma quantidade de sangue que eu poderia usar para outras coisas, tipo, alimentar meu organismo. Não sabia como iria voltar para casa. O ônibus não estava mais por lá, nem mesmo uma alma do colégio - ou uma alma viva, literalmente. Ligar para minha mãe não ajudaria, ela não sabe dirigir. Só tinha uma coisa a ser feita.
Mancando, desci as escadas até o mais perto da água que se era permitido. Puxei um dracma do bolso e lancei-o em minha frente.

-Ó, deusa Íris, atenda meu chamado. Mostre-me o Acampamento Meio Sangue.